Devido ao aumento no uso de agroquímicos para o controle de pragas e doenças na agricultura têm-se aumentado as buscas por métodos alternativos com ingredientes ativos naturais (SILVA et al., 2023). Diante disso, pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de demonstrar a eficácia dos metabólitos secundários presentes nas plantas medicinais por meio da utilização de extratos vegetais e óleos essenciais.
O uso de extratos e óleos essenciais ainda é pouco utilizado, porém trabalhos já presentes na literatura têm evidenciado seus efeitos de ação tóxica aos fitopatógenos, com positiva atividade antibacteriana e antifúngica capaz de inibir o crescimento de bactérias e fungos respectivamente, ou mesmo reduzir sua resistência para que quando tal método for aliado a outro, promova o seu controle (Figura 1). Desta forma ao se utilizar de plantas medicinais para controlar uma praga ou doença, é importante conhecer realizar a identificação do patógeno e dos principais insetos e doenças que atacam o cultivo, identificar as espécies fitoterápicas mais eficazes no controle, escolher o método de utilização que pode ser óleo essencial ou extrato vegetal, assim como o receituário de uso e utilizar nas quantidades exatas pois mesmo sendo compostos químicos sintetizados pelas plantas podem ser tóxicos se usado excessivamente (TEIXEIRA et al., 2018).
Figura 1. Uso de extratos vegetais. Fonte: https://www.plantasexoticas.com.br/agricultura-organica-3-receitas-de-inseticidas-naturais-para-plantas/
Devido à grande diversidade vegetal destas espécies, tem-se em mãos uma gama de possibilidades em sua utilização na agricultura devido ao seu grande potencial antimicrobiano e ação inseticida ou repelente, promovido pela produção de compostos secundários como alcaloides, flavonoides, taninos, quinonas, óleos essenciais, saponinas, heterosídeos cardioativos, que tem por função primordial garantir a sobrevivência da planta (PINHEIRO et. al 2018).
Os extratos vegetais possibilitam ação tóxica aos fitopatógenos que ocasionam doenças em plantas, esses extratos possuem atividade antibacteriana e antifúngica que auxilia na inibição do crescimento de bactérias e fungos, ou reduzindo sua resistência à antibióticos utilizados no seu controle (CARVALHO, 2021). Esses extratos são preparações concentradas obtidas de material vegetal seco, sendo utilizados solventes, como, por exemplo, água ou o álcool etílico no seu processo de preparo, por meio de partes da planta objetivando a retirada dos princípios ativos contidos no vegetal. Existem diversos métodos para o processo de extração, sendo estes por maceração, percolação, infusão, decocção, extração em aparelho de Soxhlet e destilação por arraste a vapor (MACHADO et al., 2019). Muitas pesquisas cientificas demonstram o efeito positivo no controle de pragas e doenças através do uso extratos vegetais. Loss et al. (2022), estudaram o efeito do extrato vegetal de açafrão-da-terra na incidência de doenças nas folhas do milho, obtendo resultados positivos em relação à atividade antifúngica, pois a utilização desse extrato surge como uma alternativa diferenciada e promissora para o manejo integrado em proteção de plantas.
Em relação aos óleos essenciais (Figura 2), que são extraídos a partir de plantas aromáticas, como as pertencentes as famílias as famílias Myrtaceae, Malvaceae, Lauraceae, Rutaceae, Lamiaceae, Asteraceae, Apiaceae, Fabaceae, Cupressaceae, Poaceae, Zingiberaceae, Piperaceae, entre outras (MOURA et al., 2019) tem, também, o seu uso crescente no controle de pragas e doenças em plantas, devido a sua capacidade de inibir o crescimento ou combater microrganismos, devido as suas propriedades antimicrobianas, fungistáticas, nematicida e inseticida ou repelente (MORAIS et al., 2009).
Figura 2. Exemplo de extração de óleos essenciais. Fonte: https://www.oleosessenciais.org/quimica-dos-oleos-essenciais-e-numero-cas/casnumber04/
Os óleos essenciais possuem aparência oleosa e vários constituintes, dentre eles os hidrocarbonetos terpênicos, álcoois simples e terpênicos, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, éteres, óxidos, peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas e compostos com enxofre, que pode se sobressair sobre os demais na concentração, apresentando um maior ou menor teor (SILVEIRA et. al, 2012).
Estes compostos podem ser extraídos de várias partes da planta como folhas, caules, cascas, sementes, frutos, raízes através de processos específicos. Porém a composição do óleo pode depender da metodologia de extração, dos compostos presentes na planta, o tempo de recolhimento das partes vegetais, da concentração dos compostos e a suas características físicas, como a sua consistência, as quais podem variar significativamente, modificando também o seu espectro de ação (BARATA et. al 2018). Comprovando a eficiência dos óleos essenciais no controle e/ou prevenção de pragas e doenças e sua importância no manejo integrado destas , pode-se apontar vários estudos, tais como os de Marafigo et al. (2022), que estudaram a eficiência do óleo essencial do capim limão e capim carona na inibição do crescimento micelial do fungo causador do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum). Enquanto Lacerda et al, (2022), estudaram os efeitos dos óleos essenciais de Alecrim (R. officinalis), Manjericão (O. bassilicum), Capim-Limão (C. flexuosus) e Hortelã-Pimenta (M. piperita L.) na bioatividade sobre o caruncho C. macullatus em grãos armazenados de feijão-caupi, reduzindo a população deste inseto.
Já Ascari et al., (2022), estudaram o potencial dos óleos essenciais de canela-da-china (Cinnamomum cassia), lavandim (Lavandula hybrida) e palmarosa (Cymbopogon martinii) no controle alternativo dos fungos Botrytis cinerea, Colletotrichum gloeosporioides e Fusarium spp., no qual constatou que o óleo essencial de canela-da-china inibiu o crescimento dos fungos, tanto em contato direto quanto por meio de volatilização, este óleo mostrou-se mais eficiente que os outros por conter uma maior quantidade de compostos ativos.
No entanto ainda que naturais, os produtos de origem vegetal possuem algumas limitações como a rápida degradação, que exige mais de uma aplicação e no momento certo; não podem ser armazenados por um longo período de tempo; disponibilidade de matéria-prima, pois são utilizadas grandes quantidades de material vegetal para fabricação dos extratos e óleos vegetais; presença de algumas substâncias tóxicas nas plantas e a falta de regulamentação que estabeleça seu uso (SANTOS et al., 2013). Desta forma, é necessário o aprofundamento nas pesquisas (Figura 3) sobre a utilização destes compostos, pois além de possuírem um grande potencial no controle das mais variadas doenças e pragas, são principalmente obtidos a partir de fontes renováveis, possibilitando seu uso sem ocasionar danos ao meio ambiente e a população (SILVA et al., 2023).
Figura 3. Pesquisas que testam a eficácia dos óleos essenciais. Fonte: http://www.fapeam.am.gov.br/pesquisa-revela-que-oleos-essenciais-de-plantas-medicinais-tem-potencial-no-controle-de-doencas-em-vegetais/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASCARI, D. et al. Controle alternativo de fungos fitopatogênicos com uso de óleos essenciais de plantas medicinais. 2022.
BARATA, A. M. et. al. Plantas Aromáticas. Caderno Técnico nº 3. Portugal: Silva Lusitana (INIAV – IP), 2018. 146p.
CARVALHO, R. S. Extratos vegetais na agricultura e no tratamento de sementes. 2021.
LACERDA, J. D. A. et al. Bioatividade de óleos essencias de plantas medicinais sobre Callosobruchus maculatus (FABR. 1775)(Coleoptera: Bruchidea) em grãos de feijão caupi. 2022.
LOSS, V. P.; SORDI, A.; CERICATO, A. EXTRATOS VEGETAIS DE AÇAFRÃO-DA-TERRA NA PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES DO MILHO. Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc São Miguel do Oeste, v. 7, p. e30734-e30734, 2022.
MACHADO, B. R. et al. Uso de plantas medicinais no controle de doenças em plantas. 2019.
MARAFIGO, D. R. F. et al. Extração e uso de óleos essenciais de plantas medicinais na inibição do Sclerotinia sclerotiorum. 2022.
MORAIS, L. A. S.; GONÇALVES, G. G.; BETTIOL, W. Óleos essenciais no controle de doenças de plantas. 2009.
MOURA, R. M. R; SILVA, F. H. M.; COSTA, M. C. S.; VIEIRA, M. D.; CASTRO, D. C. Óleos Essenciais: da extração à utilização. VI Encontro Internacional de Jovens Investigadores. 2019.
PINHEIRO, A. I. et al. UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS COMO ALTERNATIVA NO CONTROLE DE PRAGAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EXPLORATÓRIA. 2018.
SANTOS, P. et al. Utilização de extratos vegetais em proteção de plantas. Enciclopédia Biosfera, v. 9, n. 17, 2013.
SILVA, M. J. et al. Uso de plantas medicinais no controle de pragas e doenças. Plantas medicinais e suas potencialidades. v. 1, 2023, p.159-168.
SILVEIRA, J. C.; BUSATO, N. V.; COSTA, A. O. S.; JUNIOR, E. F. C. Levantamento e análise de métodos de extração de óleos essenciais. Enciclopédia Biosfera, v. 8, n. 15, 2012.
TEIXEIRA, M. D. S., PEREIRA, A. R., BENTO, I. A. B., & WAGNER, P. F. G. B. O USO DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS NO CONTROLE DE PRAGAS EM HORTAS CASEIRAS NA COMUNIDADE DE CALDEIRÃOZINHO, MUNICÍPIO DE CENTRAL-BA. Anais do Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental e Sustentabilidade - Vol. 6: Congestas 2018.