Para um melhor entendimento do que são as plantas medicinais e aromáticas e suas aplicações, é interessante uma breve definição:
Figura 1. Plantas medicinais e fitoterápicos. Imagem: iStock.
Figura 2. Planta aromática e seu óleo essencial. Imagem: Formulate Health em Flickr sob CC BY 2.0
Considera-se que a utilização dessas plantas está, acima de tudo, associado ao conhecimento agroecológico e à cultura indígena. Este conhecimento sobre práticas e utilização de plantas medicinais certamente se deu para suprir as necessidades básicas, das quais o homem primitivo dependia da natureza para sobreviver, bem como dos recursos minerais (ALBUQUERQUE & HANAZAKI, 2006). Sendo assim, o uso das plantas medicinais faz parte da história da humanidade, e se estende a todos os países do mundo, e vem crescendo, sobretudo nas últimas décadas com o uso de terapias e tratamentos de saúde alternativos e mais naturais. Isso se deve a maior valorização de uma vida com hábitos mais saudáveis, ao consumo de produtos naturais, bem como a maior percepção dos riscos de alimentos e medicamentos sintéticos, aliada à descoberta de novos princípios ativos nas plantas e a comprovação científica de fitoterápicos (SOUSA & MIRANDA, 2003) (Figura 3).
Figura 3. No Pará, plantas e ervas são usadas em receitas populares e vendidas no Ver-o-peso. Imagem: Igor Mota / Amazônia Jornal.
As plantas medicinais são particulares para cada povo que as utilizam, consistindo em, por muitas vezes, de plantas comuns, típicas da região em que vivem e das quais o uso e os conhecimentos são transmitidos de geração a geração. Existe uma infinidade de compostos que podem ser extraídos das plantas que, por vias distintas, muitos químicos ou farmacêuticos encontram nos produtos naturais os princípios ativos de medicamentos, mas a utilização das plantas medicinais ainda é considerada como uma medicina alternativa ou complementar aos recursos terapêuticos alopáticos (CARAVACA, 2000).
Porém, vale considerar que a utilização inadequada dos fitoterápicos, como a automedicação, pode trazer uma série de efeitos colaterais (PASSOS et al., 1999), como intoxicações devido a utilização de quantidades excessivas de determinadas plantas, do preparo e uso inadequados, assim como a ingestão e/ou contato com plantas que possuem efeitos tóxicos, por falta do reconhecimento correto da espécie vegetal. O indicado, na dúvida sobre o uso de uma planta, é que se procure orientação de um especialista em plantas medicinais, o que torna importante que os meios de comunicação, como os museus de ciências, disponibilizem informações à comunidade leiga, sobre a produção e uso das plantas medicinais, remetendo a história dos povos que as utilizavam, seus benefícios, usos na indústria e possíveis implicações tóxicas (Figura 4).
Figura 4. Uso de plantas medicinais é tema de palestra no Cras de Lucas do Rio Verde. Imagem: Ascom Prefeitura/Rayan Nicacio.
Como os óleos essenciais extraídos das plantas constituem um dos mais importantes grupos de matérias primas para as indústrias de alimentos, farmacêutica, perfumaria e afins e estão entrelaçados à aromaterapia. E considerando à importância das plantas medicinais e da fitoterapia para a saúde pública em consonância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde desenvolveu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde, que inclui, entre outras práticas, a fitoterapia e a aromaterapia. Com isso muitas ideias relacionadas ao desenvolvimento sustentável vêm despertando interesse nas plantas medicinais e na fitoterapia por parte de grupos sociais variados, pois valoriza a cultura e o conhecimento tradicional e popular (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Aliado a isso, a domesticação de plantas medicinais em canteiros monitorados e estufas pode dar apoio a estudos de melhoramento genético, fenológicos, morfológicos, fitoquímicos, dentre outros. Esse tipo de local também pode ser utilizado com fins didáticos, proporcionando conhecimentos em plantas medicinais através de palestras e formação de novos hortos de plantas medicinais em áreas estratégicas como colégios e universidades (SANTOS et al., 2003) (Figura 5).
Figura 5. Horto Medicinal da UFLA em 2018.
O conhecimento sobre plantas medicinais sempre foi muito importante para os povos, cuja utilização como recurso terapêutico muitas vezes assegurou a sobrevivência da espécie humana. Devido a isso, ele sobreviveu ao tempo, e mesmo diante da ascensão da indústria farmacêutica, resistiu ao progresso continuando a ser o principal recurso terapêutico em muitas comunidades (LORENZI & MATOS, 2008).
Há alguns anos, em levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, verificou-se que a fitoterapia está presente em mais de cem municípios brasileiros, contemplando quase a totalidade dos Estados. Devido à importância das plantas medicinais e da fitoterapia para a saúde pública, e em consonância com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de 2006, o Ministério da Saúde desenvolveu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), validando o uso das plantas medicinais como terapia segura (TRINDADE & SARTÓRIO, 2008).
Na instância federal, cabe destacar a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que definiu as diretrizes e ações para toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e de fitoterápicos. O Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos buscou promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais de uso de plantas medicinais e remédios caseiros. No contexto das plantas medicinais e da fitoterapia, a finalidade da RENISUS (Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS), que é constituída de espécies vegetais com potencial de avançar nas etapas da cadeia produtiva e de gerar produtos de interesse ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Ministério da Saúde, foi subsidiar o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva relacionada à regulamentação, cultivo, manejo, produção, comercialização e dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos. Teve também a função de orientar estudos e pesquisas a fim de subsidiar a elaboração da RENAFITO (Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos), o desenvolvimento e a inovação na área de plantas medicinais e fitoterápicos (PITOMBO, 2021).
Na listagem original, as espécies vegetais foram pré-selecionadas por regiões que referenciavam seu uso por indicações e de acordo com as categorias do Código Internacional de Doenças (CID-10). Essa parte do trabalho foi realizada por técnicos da ANVISA e do Ministério da Saúde (MS), profissionais de serviços e pesquisadores da área de plantas medicinais e fitoterápicos, vinculados à área da saúde, representando as diversas regiões brasileiras (RENISUS, 2015).
Até o ano de 2015, a lista de plantas medicinais continha mais de 70 espécies de vegetais (RENISUS, 2015). Os óleos essenciais constituem um dos mais importantes grupos de matérias primas para as indústrias de alimentos, farmacêutica, perfumaria e afins. O valor das plantas aromáticas e seus óleos têm sido reconhecidos há mais de 6.000 anos pelas suas propriedades de cura, limpeza, preservação e melhora de estado de humor, sendo que a aromaterapia (ramo da fitoterapia) vem sendo trilhada através de práticas médicas, religiosas e sociais através dos tempos a partir da maioria das civilizações antigas. Em relação à ação farmacológica, os óleos essenciais podem atuar no organismo de inúmeras formas, como estimulantes (sistema nervoso e musculatura lisa), calmantes, analgésicos, mucolíticos, expectorantes, imunoestimulantes, cicatrizantes, rubefacientes, hormonais, antissépticos, bactericidas, virucidas, fungicidas, anti-helmínticos, etc (TRISKA, 2003).
A aromaterapia clínica pode abordar esses efeitos, visando restabelecer o equilíbrio orgânico. Numerosos estudos confirmaram esses efeitos no organismo, que trabalham juntos nos níveis físico, mental e emocional para promover o bem-estar geral do pacient (PITOMBO, 2021) (Figura 6).
Figura 6. Aromaterapia .Foto by Freepik – www.freepik.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, U.P.; HANAZAKI, N. 2006. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.16, p.678-89.
CARAVACA, H. Plantas que curam. Editora Virtual Books Online - M&M Editores Ltda., 2000.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. de A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2 ed., Nova Odessa/SP: Plantarum, 2008, 576p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plantas medicinais e fitoterápicos no SUS, 2017. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-eprogramas/programa-nacional-de-plantasmedicinais-e-fitoterapicos-ppnpmf/plantasmedicinais-e-fitoterapicos-no-sus. Acesso: julho de 2023.
MORAIS, L. A. S. de M. Influência dos fatores abióticos na composição química dos óleos essenciais. Horticultura Brasileira 27 (2): S4050- S4063, 2009.
PASSOS, J. B. et al. Identificação dos medicamentos convencionais e de plantas medicinais utilizadas em fitoterapia da região da Serra do Cipó, MG. In: SOARES, A. (Org.). Iniciação Científica Newton Paiva. Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva, p. 26-47, 1999.
PITOMBO, L. F. A estufa escola como ponto de apoio para cultivo de plantas medicinais e extração de óleos essenciais. Revista Da Jopic, v. 6, n. 10, 2021. RENISUS: Lista de Plantas Medicinais do SUS, 2015. Disponível em: http://saudepublicacomfitoterapia.blogspot.com/2015/11/renisus-lista-de-plantasmedicinais-do.html. Acesso: julho de 2023.
SANTOS, R. da S.; RODRIGUES, S. T.; VAN DEN BERG, M. E.; LAMEIRA. O. A.; POTIGUARA, R. C. de V. Horto de plantas medicinais da EMBRAPA Amazônia Oriental – importância e desafios para o futuro. 54o CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA; 3a Reunião Amazônica de Botânica, 2003, Belém, PA.
SENAR- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Plantas medicinais aromáticas e condimentares: produção e beneficiamento / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Brasília, 2017. 124p.
SOUSA, J. A.; MIRANDA, E. M. Plantas medicinais e fitoterápicos: alternativas viáveis. In: TORRES, P. L.; BOCHNIACK, R. Uma leitura para os temas transversais: ensino fundamental. Curitiba: SENAR-PR, 2003, 620p.
TRINDADE, C.; SARTÓRIO, M. L. Farmácia viva: utilização de plantas medicinais. Viçosa/MG: Centro de Produções Técnicas, 2008b. 246p
TRISKA, L. N. S. Prazer e bem estar no ambiente de trabalho: a importância do olfato na ergonomia. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 108p, 2003